A bruta força do querer

2 de Julho de 2025

Lembro como se fosse hoje, dos meus 16 anos. Quando escrevi sobre meus sonhos. Eu queria cursar direito na UFMG, morar em Sete Lagoas e ser juíza de Direito. Sob o olhar pueril de uma adolescente tudo parecia absolutamente simples e palpável


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A bruta força do querer 


Lembro como se fosse hoje, dos meus 16 anos. Quando escrevi sobre meus sonhos. Eu queria cursar direito na UFMG, morar em Sete Lagoas e ser juíza de Direito. Sob o olhar pueril de uma adolescente tudo parecia absolutamente simples e palpável. 

Os sonhos tem mesmo este poder de afastar qualquer obstáculo. Determinada a realizar este sonho eu fui morar na cidade de Diamantina, onde trabalhei em uma loja de aviamentos, depois em uma loja de modas e por fim em uma escola de educação infantil, como monitora. Os desafios eram tantos mas por vezes sequer percebidos, pois não eram páreo para um querer desmedido. 

Em 2007 eu visitei pela primeira vez a cidade de Montes Claros. Lembro, também, como se fosse hoje da primeira vez que fui até a Avenida Deputado Esteves Rodrigues, conhecida como Avenida Sanitária. Naquele dia parecia que eu estava na Lincoln Road em Miami, pois foi meu primeiro contato com bares e restaurantes lotados, com pessoas se divertindo nos passeios, visivelmente propensas às novas amizades. 

Um ano depois eu já havia decidido mudar para a cidade de Montes Claros, trazendo em um ônibus meu colchão enrolado, uma cama de solteiro desmontada e R$ 50,00 reais no bolso. Geralmente, há duas formas de comportamento perante o desconhecido: medo ou euforia. E eu estava completamente eufórica. Não havia dimensionado os riscos desta aventura porque não os conhecia e aqueles sobre os quais fui alertada, ignorei-os para manter alimentado o meu querer. 

Vieram novas dificuldades. Morei em uma república estudantil masculina, morei de favor na casa de uma família montes-clarense que acolheu - me com muito carinho. E depois mudei -me 11 vezes, divagando entre uma república estudantil  e outra. E ao longo deste processo, fui aprovada no curso de história da Unimontes e depois em Direito, na mesma instituição, no ano de 2009. 

Foram 5 anos de histórias incríveis em uma jornada de altos e baixos. Trabalhei para estudar, primeiro vendendo trufas na universidade, depois corrigindo redações, estagiando em uma imobiliária, administrando uma empresa de dedetização e, por fim, trabalhei no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 

Como cantou Osvaldo Montenegro, ninguém amadurece se olhando no espelho é preciso vivência. Enxergar o mundo com os olhos experimentados não tem preço, mas enxergá-lo ingenuamente é o que nos permite seguir adiante. 

No tribunal, eu compreendi que não era vocacionada ao serviço público e que o cargo de um juiz de direito tal qual  outro qualquer, tem muitos infortúnios. 

Em 2014, fui aprovada no exame de ordem. Depois disso cursei uma pós em Direito Tributário e um MBA em gestão de negócios, estudei idiomas e lutei inúmeras lutas perdidas, crendo que estava no caminho certo. 

Tornei - me mãe em 2017 e vivi um misto de calmaria e turbulências, cujo amor maternal fez com que eu me esquecesse do que ocorreu nos dias desafiadores. 

Abri meu escritório, em 2016, um ano antes da maternidade. Comecei sozinha. Embora sejamos seres sociáveis, desde o advento do nascimento até o óbito estamos fadados a viver os acontecimentos mais marcantes das nossas vidas, sozinhos. Há quem discorde e eu fico feliz por isso. 

O acontecimento mais marcante da minha carreira foi o evento de negócios, vitrine 22. Uma noite para celebrar a vida e a jornada de pessoas que assim como eu, são loucas por resultados. Um tributo ao empreendedor, que sonha com um lugar melhor de se viver, que luta diariamente pelo desenvolvimento econômico do país. 

Que ironia do destino, logo eu, que sempre fui uma camponesa, criada na roça, andando a cavalo vir a ser uma advogada empreendedora, que luta pela causa desta classe da qual hoje eu, com muito orgulho, pertenço. 

O que me trouxe até aqui: a bruta força do querer, que pode ser explicada como uma espécie de resistência a qualquer tipo de impedimento ao exercício, vocacionado, de um propósito de vida. 

Tem dias que eu desejo aquietar a minha mente e os meus sonhos, mas uma voz brada no meu peito, que tomado pelo ímpeto obriga todo meu ser a ir adiante. 

Que minha história seja um tributo à cidade e ao povo montes-clarense pelo acolhimento, pelo exemplo de resistência e pela aceitação e celebração do diverso. 

Nessa terra eu nunca fui tratada como uma forasteira, muito antes pelo contrário, foi o sol de Montes Claros que iluminou os meus dons. 

Se eu tenho algo a dizer aos que me sucederão? Tenho sim. Desejo que eles experimentem a bruta força do querer, que não queiram e nem façam nada pela metade, mas que sejam em si mesmos e em tudo que fizerem: completude. 

E quando partirem em busca dos  sonhos deles, que sejam fortes e corajosos assim como aqueles que os antecederam. E quando se desiludirem, aprendam e sigam adiante. Arrependimentos? que não sejam de algo que não tiveram coragem de fazer. 

Alguma resposta aos críticos? Sim. Estou indo à loucura, caso queiram algo de lá, posso trazer. Geralmente, volto com resultados, só não sei se críticos das realizações alheias sabem o que é isso.